A preparação para a volta às aulas costuma animar crianças e adolescentes que anseiam pelo momento da compra de materiais escolares personalizados a seu próprio gosto. Por outro lado, a ida às lojas para adquirir os itens necessários para os jovens é a causa da dor de cabeça de muitos pais, que arcam com os custos das compras. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), neste ano, o caderno é o grande vilão dentre os artigos requisitados pelas escolas de Salvador e Região Metropolitana (RMS). Contudo, apesar dos preços elevados, é possível economizar até 454% na lista de materiais essenciais fazendo uma pesquisa de mercado na capital baiana.
Um levantamento feito pela reportagem através do aplicativo Preço da Hora, que reúne dados das notas fiscais eletrônicas, revelou que a compra de 11 itens escolares pode variar entre R$92,32 e R$512,06 na cidade. Os materiais em questão são: mochila, caderno de 16 matérias, lápis preto comum, régua 30cm, borracha branca, caneta preta, corretivo, pasta escolar, estojo, apontador/lapiseira e cola branca 500g.
O caderno, produto que apresentou o maior aumento dentre os itens de volta às aulas, com elevação de 12,8% na RMS na prévia da inflação acumulada em 2023, pode ser encontrado por R$35 na MC Presentes e Variedades, na Barroquinha. Uma versão tematizada do produto costuma aumentar o preço. Na loja Mali Bu, em Itapuã, um caderno da atriz Larissa Manoela é vendido por R$49,90.
Outros artigos de papelaria registraram crescimento de 5,34% na RMS na prévia da inflação acumulada no ano passado. Dentre os produtos, o que apresentou maior variação no levantamento da reportagem foi a cola branca de 500g. No Armarinho Santa Rita, em Águas Claras, o item pode ser adquirido por R$4,90, enquanto na loja Madeireira Campina Grande, no bairro do Pau Miúdo, o produto sai por R$45.
Com a compra ainda incompleta, a servidora pública Vanessa Oliveira, 41 anos, já gastou cerca de R$700 com os itens escolares das filhas Lara Sophie, 11 anos, e Maria Eduarda, 8 anos, e está insatisfeita com os preços. “Não são nada acessíveis. A cada ano, a lista de material onera muito o orçamento familiar na entrada do ano. O aumento dos preços dos itens salta aos olhos e nos assusta. Como alternativa, temos reutilizado os itens do ano anterior, que estão em bom estado de conservação, como mochila, lancheira e estojo”.
Por sua vez, a advogada Christiane Alves, 39 anos, mãe de uma menina de 5 anos, faz parte de um grupo de mães que se ajudam na hora de comprar materiais escolares. No grupo, foi distribuída a todas a função de levantar orçamentos. “As mães fazem os orçamentos e comparamos os preços. Finalmente, alguém concentra a compra e mandamos o valor para a pessoa. Ela faz a grande compra em grupo. Ao final, define-se a data que tudo será entregue na escola, discriminado por aluno”, explica.
Seguindo essa alternativa, Christiane desembolsou R$269 com materiais coletivos requisitados pela escola ao efetuar a compra em um estabelecimento comum. Pela própria escola da filha, o valor seria R$290. “Não foi muito competitivo com o valor que podemos simplesmente pagar diretamente para a escola. Pouco mais de 7% no melhor orçamento. Lamentavelmente, os locais também não têm oferecido diversidade de condições de pagamento, o que poderia atrair mais, no meu entendimento”, analisa.
De acordo com o consultor e educador financeiro Raphael Carneiro, o aumento dos preços dos materiais escolares acontece muito em função do crescimento da procura nessa época do ano. Já a variação de preço verificada pelo consumidor pode ser analisada de acordo com critérios de tempo e espaço.
“A variação de preço tem duas possibilidades. A variação ano a ano depende muito do produto, que pode ter sofrido uma grande alteração no processo de fabricação de um ano para o outro. Já a variação loja a loja acontece muitas vezes pela localização da loja. Há preços diferentes caso ela esteja em rua, shopping, bairro mais popular ou bairro mais nobre”, esclarece.
O economista Marcelo Ferreira acrescenta que fatores como a falta de matéria-prima e a cotação do dólar influenciaram o aumento anual dos itens para a volta às aulas. “Houve uma questão entre fornecedores e falta de matéria-prima. A cotação do dólar começou a cair no início do ano, mas estava em valores mais elevados no ano passado, quando foram feitas as compras do material que agora estão sendo vendidos”, diz.
Para quem quer economizar, a sugestão de Raphael Carneiro é tentar fazer as compras ao longo do ano. “Quanto mais próximo do retorno da escola, maior é o preço porque a procura é maior. Ao tentar fazer essas compras a partir de outubro e novembro, as pessoas acabam comprando por um preço mais barato”, ressalta.
Nesta altura do campeonato, o especialista aponta que uma das alternativas para gastar menos é comprar em grupo, ou seja, reunir-se com outros pais na hora de comprar, uma vez que as lojas tendem a oferecer maiores descontos. Outras possibilidades são a busca de descontos de professores e funcionários da escola, troca de livros com outros alunos e pesquisa de preço, seja na internet ou nos estabelecimentos físicos.
Por fim, Marcelo Ferreira recomenda que os pais evitem produtos da moda. “Dentro do possível, evitar produtos que têm marcas e personagens da moda, porque eles terminam inflacionando o produto sem necessidade”, finaliza.